Nossa história

Existe, no imaginário popular, a ideia de que um relacionamento amoroso longevo consiste em um teste de paciência. Intercalar brigas com pedidos de perdão e pensar em como remendar pontes já aos pedaços. Com a Carol nunca foi assim. Encontrei nela um amor tão forte e recíproco que digo com orgulho que nunca houve entre nós uma briga ou um dia de silêncio. Confiamos um no outro e encontramos no diálogo as bases de um relacionamento tão bom que por vezes me pergunto se trata-se de uma espécie de sonho eterno.

É até difícil contar a história sem soar como algo onírico. Nos conhecemos num dia de carnaval, muito longe de qualquer bloco de rua. Na verdade, eu, que nunca havia ido a um bloco de rua acabava de voltar de um, prometendo não voltar mais, e encontrei asilo no Bar do Wilson, um simpático e tradicional boteco da zona leste de São Paulo.

Lá dentro, dançando Michael Jackson vindo de uma caixa de som de qualidade duvidosa, encontrei o amor da minha vida. Nosso primeiro assunto pode não ter sido o mais romântico (pergunte-me no dia da festa, garanto que você não espera a resposta) mas o sentimento logo surgiu. No primeiro encontro fomos à casa das rosas, ela com um guarda-chuva e eu despenteado após correr meia paulista debaixo duma nuvem carregada.

Nessa época, eu dizia que só namoraria novamente a garota que quisesse casar. Dito e feito. À prima vista percebi que não havia mais ninguém e que, se ela assim quisesse, continuaríamos por toda vida.

Dia três de abril de 2019 ela me pediu em namoro. No primeiro mês, fomos numa pizzaria e eu pedi uma pizza meio aliche meia mussarela, sem perceber que eu era alérgico a aliche, fazendo a minha nova namorada ter de comer meio disco de peixe salgado. Com o decorrer dos meses descobrimos gostos e ideias em comum, regamos a semente plantada no Bar do Wilson, florescendo-a num belo botão. Não passávamos um final de semana sem nos vermos. Conheci a Polly, nossa amada cachorrinha da qual hoje também posso me chamar de dono, e fomos pra Bauru conhecer o lado dela da família.

Com a pandemia, pela primeira vez, ficamos meses sem nos vermos. Comemoramos nosso aniversário de um ano à distância, mas nunca deixamos de conversar todo dia e nos apoiarmos nos piores momentos do isolamento. Acima de uma namorada, a Carol sempre foi uma melhor amiga.

No aniversário de dois anos nos mudamos juntos. Isolados, mas não separados. Descobri as pequenas alegrias de dividir um teto, organizar os espaços, planejar compras e acordar do lado da pessoa que você mais ama quando seu vizinho decide furar a parede às três da manhã ou sob o doce canto de um morador de rua envolvido numa briga incompreensível do alto do décimo quarto andar

Em 2022 nos mudamos pro Belenzinho, passando por todas as complicações da mudança. A inevitável mudança do estado civil se aproximava. Ocorreu de minha sogra vir nos visitar e, nesse ínterim, conhecer a igreja do bairro por sugestão da minha mãe. Acontece que, convenientemente, a recepção estava funcionando no dia e fomos perguntar detalhes sobre como um casamento funcionava. Digamos que o serviço foi tão bom que saímos com data marcada, mas sem estarmos noivos. Afinal, faltava o pedido.

Bolei uma carta inspirada em Arséne Lupin com letras recortadas de uma revista e coladas em seu texto, sorrateiramente colocada em nossa caixa de correio para anunciar que “em sete dias roubarei seu coração” com endereçamento a ela, escrito no mesmo estilo. Recebi minha então namorada pálida achando que era uma carta-bomba.

Uma vez que não havia bomba nem fósforo branco pude convidá-la a almoçar no Le Jazz, mas não sem antes passar de surpresa na casa das rosas. Novamente num dia chuvoso, tivemos de andar até lá pois o Uber não conseguia ultrapassar uma obra nas imediações. Em frente ao chafariz do casarão coloquei em seu dedo anelar o anel de noivado de aquamarina, um dia portado por minha avó. Registrando o evento estava Bruno Benassi, vulgo Brunão, que a meu pedido imortalizou o momento. Não tenho a clarividência de escrever os próximos parágrafos, mas a imaginação me permite ter alguma ideia de seu teor. Fico feliz que, ao menos para o próximo, você estará conosco presente.

– Marco César Passos Curcelli