Paris, França

Antes do Big Bus

O Big Bus foi nosso primeiro passeio, e um dos mais divertidos. O Big Bus é, em essência, um circular que passa pelos pontos turísticos principais da cidade e te permite descer em algumas paradas. Depois de você descer, é só esperar outro Big Bus passar que você pode subir sem custo nenhum durante as 24 horas que se seguirem da compra da passagem.

Bem, por um acaso Paris é a cidade com mais pontos turísticos do mundo, então é um dinheiro muito bem investido. O ponto inicial era no escritório da empresa, local no qual nos deram um mapinha de bolso e nossas passagens. Todavia, acontece que o último ônibus havia lotado e tínhamos uns quinze minutos pra esperar, então saímos andando pelas ruas da cidade.

No caminho, além de vermos o poster a Kyary Pamyu Pamyu que comentei no texto sobre o transporte da cidade, encontramos um verdadeiro tesouro parisiense, uma livraria japonesa chamada Junkudo. O homem pode sair da liba, mas a liba não sai do homem. Ficamos absolutamente maravilhados com o local. A loja era de donos japoneses e a grande maioria dos livros era em língua nipônica. Apesar dos produtos serem importados e em euro, eles eram consideravelmente mais baratos do que se encontra na liberdade.

Lutando contra o descontrole financeiro, peguei só um livro de espetaculares ilustrações de Slam Dunk pelo Takehiko Inoue, e a Carol escolheu um livro de artes de Diamond is Unbreakable e um livreto de fotografias de miniaturas de Final Fantasy pelo Tatsuya Tanaka, que é especializado nesse tipo de montagem e já chegou a, inclusive, expor seus trabalhos na Japan House aqui em São Paulo.

Quando nos dirigimos ao caixa fomos atendidos por um vendedor muito simpático chamado Kenzo, um santo na terra, a bem da verdade. Tentei falar francês com ele, mas ele disse que não dominava o idioma. Então pulamos pro inglês e, apesar do estereótipo, ele era fluente e o tempo todo pedia perdão aos montes pelos preços dos livros, e ficou chocado quando descobriu que estávamos era fazendo um bom negócio. A Carol mostrou a tatuagem de jojo que fez no braço esquerdo e, em retorno, ele nos trouxe um item de detrás do caixa, um artbook do Araki chamado Jojo A-Go! Go! Uma tremenda raridade que não se encontra por menos de mil reais na internet a qual pudemos folhear.

Infelizmente não podíamos ficar muito mais por conta do ônibus e, antes de irmos embora, apresentei a mim e a Carol em japonês ao nosso novo amigo (ver esse tanto de anime serviu de algo), abrindo o sorriso do vendedor, que se introduziu como Kenzo. Ao irmos embora, ele ainda arriscou um português, mostrando que a destruição da torre de babel não resiste a um pouco de globalização.

Big Bus

Chegamos ao Big Bus, finalmente! O ônibus é aberto com cadeiras nas laterais e te entregam um fone de ouvido para inserir numa espécie de rádio que te conta a história dos locais pelos quais você passa na língua de sua preferência. A Carol escolheu o inglês, mas eu me mantive no português porque, honestamente, o português de Portugal é hilário. Passamos por vários locais os quais visitaríamos depois, como o Louvre e o Sena, mas driblamos os Champs-Élysées pois, vossa alteza real dos dedos de salsicha, Rei Carlos III da Inglaterra, estava visitando a capital de sua antiga rival, intensificando o esquema de segurança e o trânsito.

Passamos na frente da recém-restaurada Coluna de Vendôme, que foi modelada com base na Coluna de Trajano que viríamos a conhecer em Roma. Vimos Notre Dame, sem descer pois ainda está em reforma do incêndio, e reparamos em vários detalhes ornamentados nas paredes das casas e dos cafés, como pinguins e cactus em pixel art ou azulejos coloridos que formam ilustrações escondidas. Vimos a Assembleia Nacional (evidente inspiração arquitetônica pro senado americano) e o Obelisco de Luxor, mais um souvenir do colonialismo que torna a cidade bela, mas não deixa esconder a raiz brutal dessa beleza.

Passando a praça da concórdia, circulamos a Torre Eiffel. Ela é menor do que um arranha céu espelhado, mas é muito mais espetacular, com certeza. Falaremos mais a fundo sobre ela em outro texto, mas, em Paris, não se vê outra coisa no centro. É palito de dente, chaveiro, camisa, miniatura, abajur, enfim. No caminho dentre os pontos turísticos, emana uma música do fone, geralmente relacionada ao local sobre o qual nos era explicado, apesar que às vezes só colocavam uma música da Britney Spears por motivo nenhum.

Sob a Torre, encontramos uma passagem de barco para o Sena no corredor do ônibus que ninguém disse ser sua. Nem nos adiantaria usar pois nosso passeio já havia sido pago, então virou só uma lembrança.

Próximos ao final, nossa última parada era a ópera da cidade, que não conseguimos ver, vez que está em obras e coberta por um toldo colossal. Foi nesse momento, contudo, que descobrimos uma verdade inconveniente sobre viajar. Muito se diz que os franceses são pessoas difíceis, mas até então (e até voltarmos do país) fomos muito bem tratados no geral pelos parisienses e imigrantes, mas, por outro lado, os turistas americanos eram o polar oposto e acabávamos de nos deparar com os primeiros de muitos.

As duas criaturas subiram no ônibus e se sentaram atrás de nós, imediatamente se indignando com o fato de que “Todos os prédios em Paris são iguais”, o que me sugere que o casal nunca tenha visitado um condomínio fechado no interior americano, ou passeado por uma avenida empresarial de prédios espelhados. Nos cinco minutos que os aturamos antes de chegarmos ao ponto de descida, conseguiram soltar mais uma pérola, reclamando de que a cidade teria “Starbucks demais”. Parte de mim queria ter perguntado a ela se ela sabia de que país vinha a franquia em questão.

Ao descermos, fomos a um McDonalds próximo. Novamente, enquanto pedíamos nossa comida em um daqueles tokens enormes, tivemos de lidar com um grupo de americanos inconveniente que adorava ficar no meio do caminho, e que se podia perceber terem um senso exacerbado de superioridade. Enquanto eu esperava o pedido, a Carol descobriu que se precisava pagar exatamente vinte e cinco centavos para entrar no banheiro e que nem ela nem as outras quatro meninas na fila tinham esse dinheiro. Não adiantava oferecer cartão ou pedir troco, era vinte e cinco ou cadafalso. A batata frita dos franceses fazia jus ao nome de french fries (e, sim, eu sei que elas são de origem belga), sendo mais similar a uma batata duma hamburgueria gourmet aqui no Brasil, daquelas que adoram usar um símbolo de uma caveira de bigode como logo. Devoramos o lanche e partimos pro hotel, já que ali não se precisava de dinheiro nenhum pra ir ao toalete.